domingo, 2 de junho de 2013

O Rock de direita

A guinada à direita de Lobão, Roger do Ultraje e mais alguns de seus colegas de geração pode ter deixado muita gente decepcionada (me refiro àqueles que esperavam alguma coisa deles). Como podem roqueiros, com seu estilo de vida, vamos dizer, libertário, virarem direitosos? Como esses caras que mergulharam em sexo, drogas e roquenrol e brigaram com o — vamolá — “sistema” puderam se tornar reacionários depois dos 50?

Eu não tenho certeza da motivação deles (no caso de Lobão, é uma mistura de oportunismo e fanfarronice). Mas é ingenuidade pensar que rockers são automaticamente de esquerda, antiestablishment, revolucionários ou coisa do gênero.

Lobão, Roger e – lembrei de mais um – Leo Jaime não estão sozinhos no mundo em sua paranoia antiesquerdista. Eles fazem parte de uma longa tradição. Mo Tucker, a veterana baterista do Velvet Underground, a banda mais subversiva de todos os tempos, por exemplo, anunciou há poucos anos sua filiação ao ultradireitista Tea Party. “Estou furiosa com a maneira como estamos rumando em direção ao socialismo”, disse. “Eu acho que o plano de Obama é destruir a América por dentro”.
Alice Cooper, um dos pioneiros da união entre rock, teatro e filmes de terror nos anos 70, com sua sexualidade ambígua e suas letras depravadas – virou um evangélico fanático e antiobamista de coração.

Joe Perry, guitarrista do Aerosmith, que fazia com o vocalista Steven Tyler uma dupla apelidada Toxic Twins (dado o grau de ingestão de cocaína), apoiou o republicano John McCain nas eleições de 2008. “Sou republicano desde criança”, afirmou.

Ted Nugent, guitarrista e cantor, vive pedindo a pena de morte para ladrões e estupradores. Já falou que o erro dos EUA no Iraque foi não terem feito “o mesmo que em Nagasaki”. É membro fanático da famigerada NRA, o lobby pró-armas dos Estados Unidos. “Haverá um tempo que os donos de armas serão como Rosa Parks e nos sentaremos na parte da frente de um ônibus”, declarou em sua confusão mental, referindo-se à ativista negra que mudou a história da luta dos direitos civis nos EUA.

Phil Collins prometeu deixar a Inglaterra se o Partido Trabalhista fosse eleito. “Vou me mudar para a Suiça”, avisou. Noel Gallagher, ex-Oasis, aproveitou a deixa: “Vote nos trabalhistas. Se os conservadores forem eleitos, Phil está ameaçando voltar”. Em 76, Eric Clapton, bêbado, fez um discurso num show, apoiando o racista Enoch Powell. “Eu acho que Enoch está certo… Nós devíamos mandar todos eles embora. Joguem os pretos fora! Mantenham a Grã-Bretanha branca!”
Johnny Ramone mandou um “Deus abençoe o presidente Bush” quando sua banda foi incluída no Hall da Fama. “As pessoas são liberais quando jovens, e eu tenho a esperança de que elas mudem quando virem como o mundo é realmente”.

Kid Rock é um apoiador da política externa dos EUA no Iraque, fazendo turnês para levantar o ânimo da tropa. Já Dave Mustaine, vocalista da banda de metal Megadeth, se juntou recentemente ao rei da teoria da conspiração, Alex Jones, para detalhar sua visão sobre o que eles definem Nova Ordem Mundial (o grupo de judeus, negros, terroristas e o diabo que está dominando o planeta).

Agora, ninguém bate Elvis Presley. Em novembro de 1970, Elvis entregou uma carta de seis páginas para o então presidente Nixon, em que expressava sua preocupação com o país, sugerindo que ele podia usar sua posição para acabar com a “cultura da droga, os elementos hippies e os Panteras Negras”. Pediu para ser nomeado agente colaborador do FBI no Departamento de Narcóticos e Drogas Perigosas. “Estive estudando a lavagem cerebral comunista e sei que os Beatles são uma força poderosa contra o espírito americano”, revelou. Presenteou Nixon com um Colt da Segunda Guerra. A foto dos dois é o item mais requisitado da Biblioteca Nacional, à frente da Constituição.

Uma possível diferença entre os nossos roqueiros e os do exterior — além da obra, evidentemente — é que, em geral, os de lá viraram conservadores depois de ganhar, e não perder, dinheiro, relevância e influência. Aqui é o contrário.

(NOTA DO EDITOR (Adelvan) - Acho bizarríssimo, "roqueiros" de direita. Logo o rock, que foi um dos grandes responsáveis, no "front" cultural, pela quebra das barreiras raciais, unindo brancos e negros num mesmo ritmo, já que é filho do casamento entre o blues (negro) e o country, ou Hillbilly (branco) - daí o termo "rockabilly" empregado nos sons mais tradicionais, que remetem aos primordios do estilo. Mas enfim ...

por Kiko Nogueira

DCM

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Um comentário:

  1. Acho que o que resume bem essa questão é que tanto os roqueiros de direita quando os de esquerda entendem muito, mas muito pouco mesmo de política. Com algumas pouquíssimas exceções no meio mainstream (e mesmo no alternativo), os roqueiros não sabem mais do que o superficial de temas midiáticos. Não procuram estabelecer linhas coerentes nem estruturar suas ideias. Como resultado disso, temos os casos mais frequentes de todos: aqueles roqueiros que são totalmente liberais nuns temas e ultra-conservadores noutros. Isso vai além do rock e infiltra-se pelas vertentes mais alternativas, como o Punk.

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