sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Entrevista com Zé Flávio - Psychic Possessor/Safari Hamburguers/Sociedade Armada



Da Wikipédia: Psychic Possessor é uma lendária banda brasileira de hardcore formada no final de 1986 na cidade de Santos, inicialmente apenas com Zé Flávio e Lauro Netto. Lançam o primeiro disco, Toxin Difusion, em 1988, pela Cogumelo Discos. O álbum traz uma sonoridade crossover, misturando elementos de death e thrash metal com o hardcore europeu. Foi gravado em Belo Horizonte e contou com a participação do baterista Arthur, além de Zé Flávio e Lauro Netto. É considerado por muitos como um dos melhores discos de Metal já realizados no Brasil e no mundo, possuindo uma legião de fanáticos seguidores. Curiosamente, nunca atingiu uma grande vendagem, mas mesmo assim criou fama no underground santista, brasileiro e mundial. Com bases pesadas e sem solos, foi totalmente inovador para a época. Após o lançamento do primeiro disco, eles decidiram formar uma nova banda, com sonoridade mais hardcore e menos metal. Mantiveram, no entanto, o mesmo nome, para aproveitar o contrato com a a gravadora Cogumelo, que previa a gravação de mais discos. O "novo" Psychic Possessor contava, além do guitarrista, com o baterista Maurício "Boka", o baixista Fabrício e o vocalista Márcio "Nhonho". Em 1989, a banda lançou o segundo LP, Nós Somos a América do Sul, com um som menos técnico do que o primeiro e sem muitos traços do passado metálico. Misturarando ao "aroma" Brasileiro influências americanas como Agnostic Front, Attitude Adjustment, Minor Threat e Gorilla Biscuits, o trabalho foi mais bem recebido comercialmente do que o primeiro. A banda ainda continuou até 1991 com Alexandre "Farofa" (ex-OVEC) no lugar de Nhonho nos vocais e chegou a compor material suficiente para um segundo trabalho, que infelizmente nunca foi lançado. Após o final da banda, Boka entrou no Ratos de Porão e posteriormente no I Shot Cyrus, Zé Flávio montou o Safari Hamburguers e em seguida o Sociedade Armada, enquanto Fabrício e Farofa montaram o Garage Fuzz, Lauro Netto, em 2000, montou o Repulsão Explícita. Farofa também cantou no Safari Hamburguers entre 1992 e 1994.
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Entrevista com Zé Flávio (Psychic Possessor/Sociedade Armada/Safári Hamburgers)

por Alessandro E. N. & Gustavo Alves.

Entrevista feita em 2006 para o site www.psychicpossessor.kit.net

Tentei procurar escrever uma introdução dessa entrevista bem séria, o que não foi possível, pois estou carregando de um sentimento total de ORGULHO por ter entrevistado (eu e o Gustavo) um cara que somos fãs pra caralho, uma pessoa que infelizmente não está mais envolvido em banda, mas com uma ideologia que ficou praticamente intacta... Estamos falando do Zé Flávio, que começou sua carreira aos 12 anos na poderosa horda Vulcano, depois saiu e formou o GRANDE Psychic Possessor, pondo fim na banda, ainda ajudou a formar o Sociedade Armanda, Safari Hamburgers e hoje mantém um projeto com vários amigos, o SxAxVx... Nessa entrevista ele detalha bem como foi seu inicio no Metal/HC e algumas de suas posições políticas, durante essa longa estrada com mais de 20 anos no Underground. Então vamos parar de enrolação e irmos ao que realmente interessa, mas antes coloquei essa declaração que ele me passou junto com a entrevista...

"Primeiro de tudo gostaria muito de agradecer a atitude de manter viva a chama PxPx depois de tantos anos, isso me deixa com a sensação de que não foi em vão toda luta e tudo que tenho acreditado durante todos esses anos." - Zé Flávio

- Para começar, gostaria que você falasse um pouco da sua trajetória musical/política no underground.
ZF - Tenho 25 anos dedicados ao underground e por mais que me esforce essa certamente não será uma resposta curta. Comecei cedo na cena, era uma criança bem rebelde, falo sobre isso porque comecei ainda criança, então um belo dia um amigo meu apareceu com disco do Kiss na rua e eu tinha uns 10 anos de idade, se não me engano era o Rock'nRollOver, quando ouvi aquilo falei, meu deus, esse som faz o sangue ferver, rs... era pesado pacas na época, rs... daí em diante fui contaminado pelo som pesado, eu era uma criança rebelde e revoltada, odiava musica de radio em geral, quando ouvi o peso foi paixão imediata; ainda hoje brinco com amigos quando ouvimos algum som novo dizendo "O medidor de ódio esta pulsando" o que quer dizer que a banda é boa! Você sente a alma não apenas ouve o som, com certeza quem esta lendo e gosta de som pesado sabe de que estou falando. Eu acredito que em termos de HxCx, metal, musica pesada em geral é 90% ódio e revolta e 10% o resto, esse percentual varia um pouco de banda para banda, mas geralmente menos que 50% de ódio meus ouvidos recusam. Resumindo bastante, eu tinha uma guitarra elétrica que havia ganho com 6 anos de idade, eu pedi a meu avo que comprasse pra mim, de 10 para 11 anos já tinha alguns discos como KISS, Iron Maiden, Urian Heep, Black Sabbath, Van Hallen, Sex Pistols, Ramones e diversas coisas da época. Minha entrada na cena como pseudomusico, porque não me considero um, se deu aos 12 anos quando estava em uma loja de discos e chegou o Uruka, vocalista do Vulcano, bem, eu tinha umas musicas feitas já guardadas, conteúdo rápido e pesado pra época e resolvi mostrar minhas musicas pra ele, cheguei na cara de pau e falei: " Ei, meu nome é Ze Flavio toco guitarra e tenho umas musicas, vc gostaria de ouvir, quem sabe?" para minha surpresa ele topou, meio desconfiado, fomos até minha casa, era realmente perto e eu mostrei as musicas a ele, ele me convidou a mostrá-las no ensaio do Vulcano oficialmente, eu nem acreditava, eles eram gigantes na época no Brasil, tinha pouquíssimas ou nenhuma banda tão conhecida no cenário nacional como eles, então depois do primeiro ensaio, me convidaram pra tocar na banda, pra você ter uma idéia tiveram que ir em casa pegar autorização para que eu pudesse viajar com a banda pelo interior, coisa rara naquela época, o interior fervia, eram ônibus e mais ônibus, não tinha show gringo ainda, eu era uma criança 12 anos. Depois gravei meu primeiro disco com 13 anos de idade. Gravei dois LP's com o Vulcano e decidi deixar a banda, eu amava os caras, o Zhema (vulcano) foi como um pai para mim dentro do underground, mas queria fazer outra coisa musicalmente falando, também era muito moleque e só fazia besteira. Muitos dentro da cena viraram a cara para mim e aprendi desde cedo a ignorar a opinião popular e seguir pela minha cabeça, modismo sempre me incomodou. Decidi junto com o Lauro (hoje Explicit Repulsion) criar o PxPx. Começamos a ensaiar e tocar sem batera, fazia as musicas imaginando a bateria, era engraçado, chamamos o Arthur para gravar o Toxin Diffusion – resumindo, o PxPx gravou dois discos, falarei mais a respeito do outro durante o restante da entrevista; desmontamos a banda, criei o Safari Hamburgers, gravamos um álbum, mudei para Brasília, quando voltei a São Paulo montei o Sociedade Armada junto com o Fernando (até hoje vocal da banda) e então decidi me aposentar musicalmente. A ideologia e a revolta permaneceram intactas dentro de mim rs... na verdade bem amplificadas pela experiência e a idade rs... depois de muito tempo parado, mas sem nunca perder a veia de ódio, eu decidi voltar com um projeto filantrópico chamado South American Voice ou SxAxVx algo que eu pudesse fazer com a minha musica além de empolgar e acordar as pessoas, queria algo que ajudasse as pessoas mais necessitadas, algo com resultado visível e imediato. Desculpe o tamanho da resposta, mas aqui não tem 1/3 da história toda.

- Sobre o Psychic Possessor... Desde o primeiro album da banda (ou até antes) você fala que não põe um centavo no bolso com a música, ainda tem esse pensamento? e o que você acha dos que fazem?
ZF - Sim, durante todo esse tempo NUNCA ganhei dinheiro com a musica, ao contrário, gastei muito, sempre paguei tudo de próprio bolso; não sei nem quanto meus discos venderam, tudo que fiz considero de domínio publico, querem gravar o PxPx façam, querem copiar façam, querem fazer versões façam, quer fazer site, eu agradeço, não me importo, é de uso geral. Sempre pensarei assim, porque a musica para mim sempre foi uma válvula de escape, foi meu grito de revolta, antes que alguém se pergunte: "Ué mas ele não é guitarrista? Gritar com uma guitarra? Estranho!". Em todas as bandas que toquei sempre estive comprometido diretamente com a criação, composição e letras, posso dizer que 98% dos projetos que participei foram diretamente criações minhas - às vezes em parceria com os outros membros da banda, por isso digo, gritava mesmo! Gosto de tocar com pessoas diferentes, sentir a energia delas e direcionar para um objetivo comum, sou bom nisso, mas não é mérito meu, é um dom que Deus me deu e eu agradeço, gosto muito de fazer isso; voltando a grana; eu sempre trabalhei para ganhar meu dinheiro então não vejo relação entre a musica e dinheiro, para mim não faz sentido. Sobre quem o faz som pensando na grana, sei lá, gosto de pensar na liberdade de escolha de cada um, cada um faz o que quer, só acho que o dinheiro corrompe tudo; geralmente onde o dinheiro passa a fazer diferença abre-se uma brecha para manipulação de todo tipo, isto musicalmente falando não é legal, admiro muito o Racionais no sentido de que eles agem exatamente como eu fazia no underground, eles não se rendem ao dinheiro nem a mídia, não querem perder o poder do contexto, você entende o que quero dizer?.

- Em uma entrevista antiga a Rock Brigade, você fala que desde os tempos do Toxin Diffusion a banda queria fazer uma sonoridade mais pro Hardcore, então qual o motivo do disco ter tendido mais ao Metal?
ZF - Eu tinha acabado de sair de uma banda de metal (N.: Vulcano), tinha muito disso no sangue, ainda tenho ... mas eu tinha muitas bases prontas e foi inevitável colocar isso para fora naquele formato naquele momento.

- Como surgiu a oportunidade do Vladimir Korg (Chakal) participar do 1° disco de vocês?
ZF - Conheci o Vladimir quando passei um pequeno tempo na casa do Igor e do Max (sepultura) em BH; esse cara ai é um guerreiro, um batalhador, um puta vocal, foi inevitável com aquela voz, gente fina + atitude + vocal agressivo = oportunidade, tenho saudades não só dele mais de todo pessoal de BH. Conheci gente muito boa, de atitude e coração puros.

- Qual o por que daquela mudança de sonoridade do Toxin Diffusion para o Nós Somos a América do Sul? Apesar da banda (desde o primeiro álbum) tender bastante ao Hardcore, mas é nítida a mudança de rumo musical.
ZF - Sim, como te disse anteriormente, na medida que fui liberando algumas composições e coisas que tinha guardado no primeiro disco e considerando o fato da mudança dos membros da banda, foi natural; eu estava ouvindo dez vezes mais HxCx do que metal na época enquanto estávamos trabalhando no segundo disco, naquela época ouvia muito Minor Threat, Uniform Choice, Cryptic Slaughter, gosto de pensar nisso como uma evolução sonora mas principalmente ideológica, gosto de ouvir coisas que façam meu medidor de ódio pulsar, hoje em dia ta tudo muito misturado, não da mais pra saber o que é quem, tem que ficar esperto sempre na letra e ver se não estão falando abobrinha, eu ainda acredito na musica como forma de protesto então nunca fui muito eclético. Hoje ouço Racionais, coisa que jamais pensei que um dia fosse curtir, RAP, é totalmente fora da minha realidade mas faz meu medidor de ódio pulsar, eles são verdadeiros; bandas emo e muito do que tem de novo ai não fazem nem minha vó se assutar, sinceramente não me agrada, broxante.

- Por que o Lauro saiu da banda depois do lançamento do Toxin Diffusion? Isso tem alguma ligação com a mudança de direcionamento musical da banda?
ZF - Não diretamente, naquela época o RxDxPx (Ratos de Porão) estava fazendo o caminho oposto ao nosso, eles estavam colocando algumas bases mais metal no som que era puro HxCx, nós migrando de metal para HxCx quase que 100%, o Lauro era realmente muito fã deles e claro que tentava puxar influencia para as novas musicas, mas a verdade verdadeira é que eu e o Lauro brigávamos muito, eu era muito moleque na época, fizemos muita merda que não vale nem apena comentar aqui, eu era um pentelho - talvez um dia meus filhos leiam isso (risos)... Devo admitir que eu era muito mais moleque do que ele, eu realmente não me lembro de verdade porque ele saiu, mas uma coisa é certa: embora brigássemos, estávamos sempre juntos. Como todo bom irmão, não dá pra não brigar. E ele nunca deixou a cena, assim como eu, hoje ele toca no Explicit Repulsion e sempre que nos encontramos em shows é muito legal.

- Em entrevistas antigas, você sempre falava que o Psychic Possessor nunca gostou de tocar com bandas de Metal, Por que, já que o primeiro álbum tende também ao estilo.
ZF - Aqueles eram tempos totalmente diferentes de hoje em dia, quem ler essa entrevista e não passou pelos anos 80 não entenderá o porque, éramos vaiados em show de metal, chamados de traidores, coisas ridículas da época, traidores do metal!. Quando começou a onda Crossover com D.R.I. a coisa começou a mudar. Chegamos a tocar para excelentes públicos mistos sem problemas, devo ter dito isso lá traz no começo quando isso era uma realidade, punk ainda brigava com metal, e vice-versa hoje não da nem pra saber quem é punk quem é metal ...

- O Psychic Possessor já teve alguns problemas com a gravadora (Cogumelo Records), um deles foi o lançamento do segundo disco. Quais outros problemas ocorreram nesse tempo que o Psychic Possessor estava na ativa? E hoje, ainda existe algum problema com a mesma?
ZF - A Cogumelo é uma excelente gravadora, o problema fomos nós. João Eduardo, o dono da Cogumelo é uma excelente pessoa, sua esposa idem, decentes e trabalhadores, e não é fácil ter uma gravadora nesse pais, mesmo assim, ele continua lá, firme e forte. Hoje, se tivesse que escolher uma gravadora, seriam eles. Eles não interferem em nada no que você quer fazer. O sociedade armada continuou com eles, o mesmo para o Safári Hamburgers, eles te dão liberdade total, uma vez contratada a banda grava e lança o que quer! Indico para todas as bandas, isso é uma gravadora livre de verdade. Nós sempre estávamos atrás de encrenca e se não tinha encrenca então não tinha graça, essa é a verdade, a Cogumelo foi à bola da vez em um dia que acordamos de pé esquerdo.

- Depois do álbum Nós Somos a América do Sul, ocorreram mudanças na formação e mais ou menos em 1992 houve o fim das atividades, o que ocasionou o fim da banda?
ZF - Isso sempre foi um assunto um pouco proibido, quero dizer, nunca passei a frente, não vou faze-lo agora porque envolve a vida de outros membros da banda, prefiro explicar assim: Musicalmente queríamos a mesma coisa, ideologicamente como banda queríamos a mesma coisa, em termos de amizade estavamos super entrosados, inclusive foi a melhor banda que toquei na minha vida, agora em termos de ideologia pessoal, chegou um ponto onde todos queriam ficar alto, queriam curtir, e eu não achava certo, no sentido que estava influenciando diretamente o resultado dos ensaios da banda. Sou careta sim, sempre fui, alias, o PxPx não acabou realmente por conta da minha caretice, eu ia sair da banda e deixar seguir, os caras que decidiram não levar mais a banda a frente. Eu achei uma atitude de respeito, respeito mutuo, isso só mostra como éramos especiais uns para os outros, eles foram a melhor banda que toquei. Hoje, com a idade e a experiência, certamente eu teria uma atitude diferente; mas o tempo não volta.

- Logo depois do lançamento do Good Times do Safari Hamburguers, por que você saiu da banda? Como ocorreu sua entrada no Sociedade Armada?
ZF - Casei e recebi uma proposta de trabalho para morar em Brasília, decidi aceitar e deixar a banda, a banda prosseguiu sem mim, decisão deles, eu respeitei, inclusive hoje eles estão de volta por sugestão minha. Na minha volta de Brasília encontrei com o Fernando um dia que eu estava andando de tarde na praia e falei que queria fazer outra banda, tava sentindo falta de tocar, ele falou que toparia e ai foi acontecendo, juntou a fome com a vontade de comer, chamamos o Medina o Fio e foi amor ao primeiro ensaio, é a segunda banda que mais amei tocar, éramos MUITO unidos.

- Em 2002 chegou a ser anunciado o relançamento do Good Times do Safari Hamburguers em cd, o que não ocorreu. Porém, logo depois o Nós Somos a América do Sul foi relançado. O que você tem a dizer sobre esse fato?
ZF - Não sei o que te dizer. Domínio publico cara, para mim é domínio publico! Eu não controlo essas coisas, eu nem mesmo acompanho, nunca acompanhei, to sabendo que o Safari vai sair porque agora estou bem próximo ajudando eles na produção musical das novas musicas, espero poder pelo menos ajudar a acabar o novo álbum, não sei se conseguirei por força do meu trabalho oficial que está puxadíssimo. Em todo caso acho importante reafirmar que eu realmente não me importo, contanto que o contexto esteja lá, a mensagem seja dada sem alteração de contexto, quero dizer, o grito de revolta que queria dar naquele momento esteja lá sem alterações.

- Em 2001 você saiu do Sociedade Armada, por que a saída? Você envolveu-se em algum projeto depois? Há algum ressentimento entre você e a banda?
ZF - Meu Deus!, Nunca!, Sociedade Armada até a morte!!! Quase tatuei no corpo o logo da banda, preciso deixar uma coisa clara aqui, a única banda que toquei e não fundei foi o Vulcano, todas as outras estive envolvido diretamente na criação das bandas como musico e mentor, logo, não são bandas onde toquei e sim filhos que coloquei no mundo ... Eu não sei realmente porque sai! Acho que nem eu, nem ninguém na banda pode te responder isso. Foi um desgaste natural, a gente criou a banda para nunca aparecer, nunca divulgar, nunca nada, você entende? Isso fazia parte da ideologia da banda! Radicalismo mesmo! Era uma válvula de escape para todos nós, tínhamos regras duras com relação à mídia e locais de shows, todos trabalhávamos muito em seus respectivos empregos, fomos nos fechando em nós mesmos, era o que queríamos fazer na época, porém hoje em dia eles continuam com força total, não sei dizer se hoje é como antes, em termos de radicalismo, sei dizer que SxAx mora no meu coração e o "Ordem e Progresso", primeiro CD sem minha participação, esta sempre a mão para ouvir, medidor de ódio altíssimo!!!!. Minha saída não foi absolutamente nada pessoal, musical ou ideológica. Para você entender minha relação com a banda vou comentar algo que nunca vou esquecer, talvez uma das coisas mais marcantes durante todos esses anos: um dia, fui em um show do Sociedade Armada aqui em Santos, já estava fora, fui assistir o show, era Sociedade armada, Ação direta, um puta show!!! Lotado! Os caras tipo agradeceram minha presença pelo microfone e comentaram sobre os meus anos de serviço prestado ao underground e todos os presentes aplaudiram! Alguns de pé! Cara, não consigo descrever aquele curto mas eterno momento em palavras, o que senti? Não da pra explicar, era muita gente, gente pacas, tudo que pensei naquela hora foi: "Valeu a pena!!! Gritei: "Toca "Rotina" porra!!!!" e meu coração se encheu de agradecimento. Você perguntou sobre dinheiro em algumas questões anteriores, e eu continuo dizendo que foda-se o dinheiro, quando você ouve isso e olha para sua história pessoal você pensa: "Fiz tudo de cara limpa e sem nenhum interesse que não protesto" isso não tem dinheiro que pague! Sua honra, saca? Quando alguém houve todas as minhas musicas e sabe a letra de cor, isso pra mim vale uma vida cara. Continuando a resposta, hoje não toco mais em banda, criei um projeto chamado South American Voice ou SxAxVx que é com finalidade de filantropia, o som é um mix de Socidade Armada + Psychic Possessor + Safári Hamburguers afinal, isso é só o que sei fazer, não sou musico, financiei tudo do próprio bolso porque acredito em ações sociais, chamei vocais de peso para cantar minhas musicas, como o Fernando (Sociedade Armada) , Gepeto (Ação Direta) , Gordo (RxDxPx) um dos caras que mais respeito, Fabio (Paura) e ainda Ale (DipLik) na batera, fiz todas as musica e gravei o baixo, guitarras e alguns vocais, é um projeto legal e vale a pena conferir, encare esse projeto dessa forma: sempre que eu quiser gritar agora eu criei meu próprio espaço, SxAxVx é meu espaço.

- Apesar de você já ter declarado que teve vários problemas com a Cogumelo desde o lançamento do Toxin Diffusion, por que você lançou seus trabalhos com o Safari Hamburguers e com o Sociedade Armada por esta mesma gravadora? Você nunca chegou a pensar em lançar seus trabalhos de forma independente?
ZF - Os problemas com a Cogumelo como disse antes eram frutos de minha imaturidade mesmo, todas as bandas que você citou continuam com a Cogumelo :) . Sobre fazer discos, CDs, de forma independente, quero deixar claro que eu não vivo da musica, logo não teria tempo pra isso cara, lançar, correr atrás, vender, não é minha praia, já faço musica, letra, arte dos Cds e bolo todas as paradas, mas essa parada de produção independente prefiro deixar para quem tem mais corrida.

- Recentemente soubemos que você voltou para o Safari Hamburgers, você confirma isso? Há algum plano de gravar novo disco? será pela Cogumelo?
ZF - Toquei em apenas um show para ajudar a banda, eles estavam com apenas uma guitarra e Safari Hamburgers foi feito para ter duas guitarras, todas as musica exigem isso; acredito que eles estão pegando outro guitarra, eu não toco mais na banda não, estou ajudando na produção musical hoje que já tem três musicas novas, mas é apenas uma ajuda.

- Em 2002 houve o relançamento do disco Nós Somos a América do Sul (pela série Cogumelo Remasters), o mesmo possui uma ótima arte gráfica, mas a remasterização do som deixa bastante a desejar, por que houve essa produção (musical) tão fraca?
ZF - Pelo que soube na radio peão a fita master tava danificada, meio derretida, mas não posso afirmar.

- O que ocorreu para a musiquinha depois de América do Sul não ter entrado nesse remaster?
ZF - Parece que era a parte mais danificada da fita.

- Como você vê o relançamento do Toxin Diffusion em cd, que será feito ainda este ano? Há alguma música gravada pelo Psychic Possessor que nunca foi lançada? sera inclusa nesse remaster?
ZF - O Psychic Possessor tinha 17 musicas novas quando terminou, estávamos com o disco novo pronto! Seria legal fazer uma coisa nova naquela linha para constar como novidade no CD mas a logística pra fazer isso hoje é muito complicada, ta cada um para um lado.

- O que você achou dos covers do Psychic Possessor feitos pelo The Mist, Ratos de Porão e D.F.C.?
ZF - Maravilhosos cara!!! Como disse antes essas coisas que fazem valer a pena, quando as pessoas demonstram respeito e empatia de idéias, para mim banda é pra isso, difundir idéias. Ao tocarem nossas musicas estão reafirmando nossa idéia e assinando embaixo, acho isso gratificante.

- Caso o Psychic Possessor voltasse hoje, qual álbum tenderia mais a sonoridade? e Por que?
ZF - Tentamos voltar acho que em 2002, para gravar aquelas musicas que ficaram para trás, mas não deu certo, diria que não foi o momento!. Se fossemos fazer musicas novas hoje, o som talvez seria muito diferente, não por mim porque basicamente não mudei bosta nenhuma, não evolui musicalmente e ainda ouço basicamente as mesmas coisas, porém o Mauricio toca no Ratos de Porão logo traria uma pegada mais Ratos, o Fabrício e o Farofa tocam hoje no Garage Fuzz e trariam uma pegada mais Garage, acho que seria uma mistureba danada, mas a idéia de pelo menos gravar as musicas que ficaram largadas me agrada, tenho uns mp3 destes ensaios de 2002 aqui.

- Qual sua opinião sobre bandas de NSBM (National Socialist Black Metal)? que abordam temas como Nazismo, supremacia branca e outros...
ZF - Meu Deus! Black metal nazista? Nunca ouvi falar disso, to velho mesmo. Em todo caso hoje eu tenho uma resposta padrão para esse tipo de ideologia racista, a mesma para granfinos, pessoas que dirigem sua vida pelo dinheiro, e coisas sem importância: evoluam! Viemos aqui, nesse planeta, para evoluir e cair fora. Leiam "Nosso lar" de Chico Xavier, ignorem a religião mas usem os ensinamentos que são sábios. Eu não prego nenhuma religião, eu mesmo não tenho religião logo não posso indicar nenhuma, mas posso indicar uma boa literatura. Nós todos, seres humanos, estamos aqui para evoluir. Esqueçam coisas sem importância como a cor da pele.

- Quais projetos/bandas você está envolvido atualmente?
ZF - Estou tentando lançar o SxAxVx que esta pronto a dois anos quase, ainda não pude faze-lo por forças diversas, estou envolvido no momento na produção musical do Safari Hanburgers, gostaria de fazer mais porém ando trampando demais.

- Algum plano para o futuro?
ZF - Lançar o SxAxVx e quem sabe fazer o dois, três, quatro, sempre trazendo músicos diferentes. To pensando em produzir musicalmente bandas, tenho esse dom que Deus me deu e quero usa-lo para ajudar as bandas, mas na verdade no momento preciso tocar minha vida profissional.

- Você mantém ainda contato com os antigos membros? como o Lauro, Márcio, Fabrício e o Boka.
ZF - As vezes encontro com eles em shows, mas não é freqüente.

- Qual sua opinião sobre a volta das bandas como o Chakal, Holocausto, Vulcano (banda que você tocou) e outras? Tem acompanhado algum lançamento dessas bandas?
ZF - Lindo cara, isso ai é legal de ver, sorte a todos eles!.O Vulcano ouvi sim, pedreira, gostei muito, o guitarra toca muito, chakal preciso entrar em contato com eles, muito tempo sem contato. Holocausto, soube que voltou agora por você, gostava muito do som deles.

- Estamos em pleno período de copa do mundo (2006), nesse tempo o povo brasileiro começa a vestir e agir como "nacionalistas", você acha que isso seja mesmo uma Consciência Nacionalista ou uma Alienação Nacionalista?
ZF - Ah se o povo brasileiro fosse mais culto cara! Só falta isso pra gente; cultura de base, seríamos um pais do primeiro mundo; pegar a camada mais pobre e instruí-los. Nenhum f.d.p. político faz porque sabe que ai os critérios de qualidade vão aumentar e automaticamente eles estariam fora, porque política no Brasil não é saber fazer, é saber vender. Se olharmos para o futebol como um momento de união é lindo do ponto de vista que é um sentimento popular e autêntico, quero dizer, ninguém manda o povo fazer isso, ele vai lá e faz por ele mesmo, se sente parte de algo, você percebe que as pessoas amam o país, querem ter referencia, mas só que depois da copa só fazem merda de novo, então isso não adianta nada. O Brasil precisa de cultura de base.

- Tendo lançado ótimos trabalhos pelas bandas que você lançou, influenciado vários músicos e composto músicas que serviram como trilha sonora da vida de algumas pessoas (inclusive os 2 responsáveis por esta entrevista), qual é o maior orgulho e o maior arrependimento que você tem nestes mais de 20 anos da tua carreira musical?
ZF - Orgulho? Bem, cada vez que ouço coisas como as que você acabou de dizer no corpo da pergunta sinto aquele sentimento, VALEU A PENA, mais uma vez!!! Isso me orgulha muito porque eu sempre fiz musica de protesto, sem nenhum interesse outro que o protesto e com a certeza no fundo da alma sabia que alguém ouviria e entenderia meu ponto de vista. Quando as pessoas, alem de gostar, ainda concordam, só tenho a dizer: VALEU A PENA!!! Arrependimento? Acho que a única coisa, não sei se posso chamar de arrependimento, mas, quando eu era muito mais novo, eu era realmente radical, eu fazia tudo com o coração e a emoção, tudo era ou vida ou morte, hoje aprendi a tentar ser mais tolerante com tudo, pensar mais antes de agir, algumas coisas levam e a mudança é inevitável, faz parte da evolução humana, mesmo ainda considerando políticos, cobradores de impostos, grã-finos e pessoas direcionadas pelo dinheiro como a corja da humanidade, com raríssimas exceções, procuro tentar avaliar tudo sob todos os pontos de vista, embora as vezes seja difícil.

- Pra finalizar, uma pergunta que muitos pedem, há alguma chance do Psychic Possessor voltar a ativa?
ZF - Nada na vida é impossível, mas te diria que a possibilidade de voltar como banda, fazendo turnês, shows, agenda, é muito dificil! Agora, talvez uma reunião de amigos e colocar isso em um CD apenas para colocar o ódio para fora, eu diria difícil, mas não impossível.

- Obrigado Zé Flávio por ter cedido essa entrevista para o site, esse espaço é seu para suas considerações ou agradecimentos...
ZF - Obrigado a vocês pela iniciativa! SEJA, APROVEITE! RESPEITE SUA VERDADE! Você nasceu sozinho e morrerá sozinho e essa é a única coisa que você pode ter certeza na vida, o resto é a própria vida e o legado que você vai deixar para os que vêm depois. Siga o caminho do bem e CONSTRUA. Se puder chutar uns traseiros de políticos não esqueça de me convidar, eles são o câncer do planeta. Justiça, Verdade, Paz e Longa vida ao HxCx!!!!

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Difundindo Suas Idéias
(Nós Somos a América do Sul - 1989)

Revista Rock Brigade - nº ?, Brasil, 1989.

O Psychic Possessor, apesar de ser uma banda relativamente nova, veio com uma proposta arrasadora e ao mesmo tempo cercada de polêmica. Nesta entrevista o quarteto coloca tudo em pratos limpos.

Rock Brigade - Em uma entrevista no começo do ano, vocês falaram que jamais abririam uma banda estrangeira. Vocês têm esse pensamento hoje em dia?

Zé Flávio - Continuo. Nós ainda pensamos não abrir para bandas lá de fora.

Rock Brigade - Mesmo se for um DRI?

Zé Flávio - Aí é diferente, pois o público Hardcore respeita as bandas nacionais. A questão não é a banda em si, mas sim o público desta banda. Na época foi cogitado que nós abriríamos para o KREATOR. O pessoal que só quer ver banda de fora se fodeu nessa. Gastou uma nota e não viu nada nesse show do KREATOR. A gente só quer tocar para um público que goste de nossas idéias, não adianta tocar para quem não nos quer ver. Uma vez nós tocamos no Mambembe, e perguntamos pro pessoal se eles queriam ver a gente, e eles responderam que não, e nós arrumamos as coisas e fomos embora. Mas nós nunca discriminamos ninguém. A gente respeita os carecas e eles respeitam a gente.

Rock Brigade - Vocês se consideram o quê?

Zé Flávio - Me considero uma pessoa. Não sou um Punk, Careca, não sou nada.

Rock Brigade - E o som?

Zé Flávio - É Hardcore.

Rock Brigade - Mudando de assunto, porque você, Zé, saiu do Vulcano?

Zé Flávio - Teve aquele festival (Americana/SP), e eu perdi a cabeça, eu larguei a guitarra pra dar uma porrada num cara, aí eu não achei o cara e fiquei nervoso. Mas o que eu queria fazer mesmo era uma coisa mais voltada para as minhas idéias. Alguma coisa mais consciente. Agora se eu pudesse voltar atrás eu gravaria o Toxin Diffusion em português, por que eu não sabia que o pessoal não ia entender a mensagen em inglês.

Rock Brigade - E hoje em relação ao Vulcano tá tudo bem?

Zé Flávio - Tá sim. Devo muito ao Zhema, Uruca. Devo tudo por que quando o Psychic começou a ensaiar, a gente ensaiava no mesmo local deles. Se eu precisar deles eu sei que eles vão me ajudar e vice-versa.

Rock Brigade - Vocês tem tocado atualmente as músicas do 1.° LP?

Zé Flávio - A gente tentou tocar uma em português, mas não ficou legal, então a gente tirou fora. A gente prefere tocar as do novo, já que temos que divulgar o nosso novo LP.

Rock Brigade - Se vocês não tocassem no Psychic, em qual banda vocês tocariam?

Zé Flávio - Puta, é foda. Faríamos um Psychic II ou Possessor Psychic. Não tem jeito a gente ta super bem entrosado e é bem democrático, onde tudo o que resolvemos é votado.

Maurício - Eu tocaria só em uma banda em que estivesse contente. Talvez o Ação Direta.

Zé Flávio – É, o Ação Direta é muito bom, eles tem boas idéias, mas só tocaria pra quebrar um galho.

Rock Brigade - Porque o título de "Nós Somos a América do Sul"?

Zé Flávio - A gente tem que assumir a postura de Sulamericano. Não que só os Hardcores e Punks são a américa do sul. A gente quis dizer com a capa para haver união entre todas as pessoas e movimentos, a gente sabe que os gringos não gostam de chicanos, e a gente fez isso só pra provocar. Primiero nós, a América do Sul, depois os outros.

Rock Brigade - Vocês gostariam que todo latino gostasse de Psychic?

Zé Flávio - Não, a gente só quer que entendam a nossa mensagem e respeitem. Só respeitar tá bom. Eu respeito todo mundo. "Porque você bate a cabeça lá no show?". "Porque eu gosto". Pra mim uma resposta assim tá bom.

Rock Brigade - Vocês sempre disseram que eram Underground, mas se um dia fizerem sucesso como vocês vão encarar isso?

Zé Flávio - Do jeito que somos nunca vamos estourar. A gente é Underground não na aparelhagem, mas sim na cabeça, a gente aceita tocar em qualquer lugar, se botarem uma bateria e alguns instrumentos na praia e convidarem a gente, a gente vai. Se alguém tiver idéias parecidas ou queira chamar a gente para tocar, e estiver lendo isso pode chamar a gente que a gente vai, é só pagar a passagem e comida. Agora em relação ao sucesso, se a gente fizer, vai ser a mesma merda, se a gente ganhar algum dinheiro, a gente dá tudo, eu não quero dinheiro, eu quero que a moçada entenda as nossas idéias. Só isso.

Rock Brigade - E dar entrevistas em revistas de maior nome como a BIZZ?

Zé Flávio - Sim, de BIZZ até MANCHETE, passando pela Contigo, mostrando as nossas idéias, tá bom.

Rock Brigade - E o que vocês escutam hoje em dia?

Zé Flávio - As bandas que a genta mais curtia tão uma porcaria hoje em dia, como os ET SECONDS. Mas eu gosto de AÇÃO DIRETA, e no HM não há mais bandas originais.

Maurício - OLHO SECO, AÇÃO, DESORDEIROS DO BRASIL, SEPULTURA E NUCLEAR, dos ANTIGOS, BLACK SABBATH E MOTORHEAD.

Márcio - TITÃS, BAD BRAINS e outros HC, além de RAMONES.

Rock Brigade - E o futuro?

Zé Flávio - Futuro automático. (risos). Em janeiro e fevereiro a gente vai tocar no Perú e Chile. 3 shows no Perú e 2 no Chile. Com bandas de lá. A gente já tá com outra gravadora (que eles não quiseram mencionar), e vendo um lance no exterior pra gente lançar um split com outra banda. O que ajuda é que nos temos muitos correspondentes lá fora.

Rock Brigade - Alguma mensagem para nossos leitores?

Zé Flávio - Tudo é Rock!!!

Um comentário:

  1. Eu tenho o Nós somos a América do Sul do Psychic Possessor em vinil hehe Comprei aí em Aracaju na loja Little Music Underground lá no centro. A qualidade da gravação é muito fraca, mas o som é legal.

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